AQUI PARA FICAR OU SÓ DE PASSAGEM? EXPERIÊNCIAS MIGRATÓRIAS DE SENEGALESES E GANESES NO BRASIL
DOI:
https://doi.org/10.33148/CES2595-4091v.33n.220181771Palavras-chave:
migração sul-sul, africanos no Brasil, experiencias migratórias, mobilidadesResumo
Os últimos anos testemunharam um aumento na entrada de migrantes africanos no Brasil e na América do Sul em geral. Os senegaleses representam um dos maiores grupos deste novo movimento migratório. A literatura especializada sugere que o desenvolvimento de novos corredores de migração intercontinental sul-sul é, por um lado, resultado do desenvolvimento econômico e geopolítico na região, enquanto que, por outro lado, as dificuldades na migração para a Europa conduzem os senegaleses, ganeses e outros imigrantes africanos a buscarem alternativas e expandir seu horizonte migratório para outros continentes. Embora as migrações tenham sido sempre complexas e heterogêneas, a rapidez com que os fluxos migratórios atuais emergem, mudam de direção ou composição e desenvolvem novos padrões é notável. As dimensões espaciais e temporais da migração tornam-se cada vez mais não-lineares e a distinção entre ‘país de trânsito’ e ‘de destino’ fica menos evidente no contexto de mudanças rápidas e transformações globais o que coloca as dificuldades de categorizar esses fluxos. Os imigrantes recentes no Brasil têm que se adaptar às mudanças das condições durante a migração; eles precisam constantemente refletir sobre as circunstâncias que encontram, identificar novas oportunidades e obstáculos e reagir a eles. Esse artigo tem o intuito de compreender como os migrantes navegam através de estruturas em mudança durante a migração para e dentro do Brasil, bem como apresenta alguns dados empíricos sobre o desenvolvimento de novos corredores migratórios entre alguns países africanos e o Brasil. O presente trabalho concentra-se nos padrões de mobilidade, tanto antes quanto depois da chegada ao Brasil, e tenta conectar esses padrões com a agência dos migrantes. Ao analisar os padrões de movimento e a forma como e por que as decisões e aspirações da migração podem mudar ao longo do curso da migração, o trabalho aborda sobretudo as dimensões espaciais e temporais deste caso específico de migração sul-sul.
Downloads
Referências
AGÊNCIA DA ONU PARA REFUGIADOS – ACNUR. Refúgio no Brasil: uma análise estatística – janeiro de 2010 a outubro de 2014. Brasília: United Nations High Commissioner for Refugees, 2014.
ASSIS, G. O. A fronteira México-Estados Unidos: entre o sonho e o pesadelo – as experiências de e/imigrantes em viagens não-autorizadas no mundo global. Caderno Pagu, Campinas, n. 31, p. 219-250, 2008.
______. De Criciúma para o mundo: rearranjos familiares dos novos migrantes brasileiros. Florianópolis: Mulheres, 2011.
BAKEWELL, O. et al. South-South migration and human development: reflections on African experiences. Oxford: International Migration Institute, University of Oxford, 2009. v. 15. (Working Papers Series).
______. (Org.). Beyond networks: feedback in international migration. Basingstoke: Palgrave Macmillan, 2016.
BAUMAN, Z. Globalização: as conseqüências humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.
BOURDIEU, P. The forms of capital. In: RICHARDSON J. G. (Org.). Handbook of theory and research for the sociology of education. New York: Greenwood Press, 1986. p. 241-558.
BRASIL. Ministério da Justiça. Sistema de refúgio brasileiro: desafios e perspectivas. Brasília, DF: Comitê Nacional para os Refugiados, 2016.
______. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Secretaria Nacional de Justiça. 2018.
______. Ministério da Justiça. Departamento da Polícia Federal – Registro de Estrangeiros. Brasília, DF: Sistema Nacional de Cadastro e Registro de Estrangeiros (SINCRE), 2018.
______. Ministério do Trabalho. Relação anual de Informações Sociais: 2010-2015, Brasília, DF: 2016.
______. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Refúgio em números. Brasília, DF: Comitê Nacional para os Refugiados, 2017.
BREDELOUP, S. Migrations d’aventure: terrains Africains. Paris: Comité des Travaux Historiques et Scientifiques, 2014.
CARLING, J. Migration in the age of involuntary immobility: theoretical reflections and Cape Verdean experiences. Journal of Ethnic and Migration Studies, Abingdon, v. 28, n. 1, p. 05-42, 2002.
________.; COLLINS, F. L. Aspiration, desire and drivers of migration. Journal of Ethnic and Migration Studies, Abingdon, v. 44, n. 6. p. 909-926, 2018.
________.; SCHEWEL, K. Revisiting aspiration and ability in international migration. Journal of Ethnic and Migration Studies, Abingdon, v. 44, n. 6, p. 945-963, 2018.
________. et al. Migration aspirations in Senegal: who wants to leave and why does it matter? European Policy Brief, Brussels, Jan. 2013. Disponível em: <https://bit.ly/2BhOzfL>. Acesso em: 14 dez. 2018.
CAVALCANTI, L.; OLIVEIRA, A. T.; ARAUJO, D. A inserção dos imigrantes no mercado de trabalho brasileiro: relatório anual 2016. Brasília, DF: Observatório das Migrações Internacionais, 2016.
CZAIKA, M.; DE HAAS, H. The role of internal and international relative deprivation in global migration. Oxford Development Studies, Abingdon, v. 40, n, 4, p. 423-442, 2012.
DE BOECK, F. City on the move: how urban dwellers in Central Africa manage the siren’s call of migration. In: GRAW, K.; SCHIELKE, S. (Org.). The global horizon: expectations of migration in Africa and the Middle East. Leuven: Leuven University Press, 2012. p. 59-85.
DE HAAS, H. The myth of invasion: the inconvenient realities of African migration to Europe. Third World Quarterly, Abingdon, v. 29, n. 7, p. 1305-1322, 2008.
DÜNNWALD, S. On migration and security: Europe managing migration from Sub-Saharan Africa. Cadernos de Estudos Africanos, Marseille, n. 22, p. 103-128, 2011.
FALL, P. D. Des francenabe aux modou-modou: l’émigration sénégalaise contemporaine. Dakar: L’Harmattan-Senegal, 2016.
FLAHAUX, M. L.; DE HAAS, H. African migration: trends, patterns, drivers. Comparative Migration Studies, New York, v. 4, n. 1, p. 1-25, 2016.
FREIER, L. F. The importance of access policies in south-south migration: Ecuador’s policy of open doors as a quasi experiment. Oxford: International Migration Institute, 2014. v. 13. (Working Papers Series).
GRAW, K. On the cause of migration: being and nothingness in the African-European border zone. In: GRAW K.; SCHIELKE S. (Org.). The global horizon: expectations of migration in Africa and the Middle East. Leuven: Leuven University Press, 2012. p. 23-42.
GRAW, K.; SCHIELKE, S. Introduction: reflections on migratory expectations in Africa and beyond. In: GRAW, K.; SCHIELKE, S. (Org.). The global horizon: expectations of migration in Africa and the Middle East. Leuven: Leuven University Press, 2012. p. 7-22.
HEIL, T. Uma infraestrutura muçulmana de chegada no Rio de Janeiro. Revista Interdisciplinar da Mobilidade Humana, Brasília, v. 26, n. 52, p. 111-129, 2018.
HERÉDIA, V. B. M.; GONÇALVES, M. C. S. Deslocamentos populacionais no Sul do Brasil: o caso dos senegaleses. In: TEDESCO, J. C.; KLEIDERMACHER, G. (Orgs.). A imigração senegalesa no Brasil e na Argentina: múltiplos olhares. Porto Alegre: EST, 2017. p. 209-228.
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAGIA E ESTATÍSTICA. Gráfico de Distribuição da População Africana por país de origem. 2000.
JUNG, P. The dynamics of migration and their impact on the country of origin: a case study of Senegalese labour migrants on the Cape Verdean island Boa Vista and their relatives at home. 2013. 102 f. Dissertação (Mestrado em Estudos Africanos) – Instituto Universitário de Lisboa, Lisboa, 2013.
______. Migration, remittances and development: a case study of Senegalese labour migrants on the island Boa Vista, Cape Verde. Cadernos de Estudos Africanos, Lisboa, n. 29, p. 77-101, 2015.
JΌNSSON, G. Migration, identity and immobility in a Malian Soninke village. In: GRAW, K.; SCHIELKE, S. (Org.). The global horizon: expectations of migration in Africa and the Middle East. Leuven: Leuven University Press, 2012. p. 105-120.
LESSAULT, D.; FLAHAUX, M.-L. Regards statistiques sur l’histoire de l’émigration internationale au Sénégal. Revue Européenne des Migrations Internationales, Marseille, v. 29, n. 4, p. 59-88, 2013.
MARCELINO, P. F.; FARAHI, H. Transitional African Spaces in Comparative Analysis: inclusion, exclusion and informality in Morocco and Cape Verde. Third World Quarterly, Abingdon, v. 32, n. 5, p. 883-904, 2011.
MASSEY, D. S. et al Worlds in motion: understanding international migration at the end of the millennium. Oxford: Clarendon Press, 1998.
MBAYE, L. M. “Barcelona or die”: understanding illegal migration from Senegal. Bonn: Institute for the Study of Labor, 2013. v. 7728. (IZA Discussion Paper Series).
MBODJI, M. Imaginaires et migrations: le cas du Sénégal. In: DIOP, M.-C. (Org.). Le Sénégal des migrations: mobilités, identités et societés. Paris: Karthla, 2008.
MCGARRIGLE, J.; ASCENSÃO, E. Emplaced mobilities: Lisbon as a translocality in the migration journeys of Punjabi Sikhs to Europe. Journal of Ethnic and Migration Studies, Abingdon, v. 44, n. 5, p. 809-828, 2017.
MENGISTE, T. A. Refugee protections from below: smuggling in the Eritrea-Ethiopia context. The Annals of the American Academy of Political and Social Science, Thousand Oaks, v. 676, n. 1, p. 57-76, 2018.
MONDAIN, N.; DIAGNE, A. Discerning the reality of “those left behind” in contemporary migration processes In Sub-Saharan Africa: some theoretical reflections in the light of data from Senegal. Journal of Intercultural Studies, Abingdon, v. 34, n. 5, p. 503-516, 2013.
PAUL, A. M. Capital and mobility in the stepwise international migrations of Filipino migrant domestic workers. Migration Studies, Oxford, v. 3, n. 3, p. 438-459, 2015.
PORTES, A. Social capital: its origins and applications in modern sociology. Annual Review of Sociology, Palo Alto, v. 24, n. 1, p. 1-24, 1998.
PROTHMANN, S. Migration, masculinity and social class: Insights from Pikine, Senegal. International Migration, Hoboken, v. 54, n. 4, p. 96-108, 2018.
RICCIO, B. Disaggregating the transnational community Senegalese migrants on the coast of Emilia-Romagna: transnational communities programme. Oxford: Economic and Social Research Council, 2001. v. 11. (Working Paper Series).
SALAZAR, N. B. The power of imagination in transnational mobilities. Identities, Abingdon, v. 18, n. 6, p. 576-598, 2011.
SANTOS, A. L.; ROSSINI, R. E. Reflexões geográficas sobre migrações, desenvolvimento e gênero no Brasil. In: BAENINGER, R .et al. (Org.). Migrações sul-sul. Campinas: Núcleo de Estudos de População Elza Berquó, 2018. p. 277-295.
Schewel, K., Understanding the Aspiration to Stay - A Case Study of Young Adults in Senegal, Oxford: International Migration Institute, 2015. v. 107. (Working Papers Series).
SCHILLER, N. G.; BASCH, L.; SZANTON-BLANC, C. Transnationalism: a new analytic framework for understanding migration. Annals of the New York Academy of Sciences, New York, v. 645, n. 1, p. 1-24, 1992.
SECRETARIA MUNICIPAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL DE CRICIÚMA. Relatório situacional dos Imigrantes da Cidade de Criciúma. Criciúma, 2015.
SENEGAL (País). Situation economique et sociale du Sénégal en 2011. Dakar: Agence Nationale de la Statistique et de la Démographie, 2013.
SILVA, F. R.; LIMA, C. F.; FERNANDES, D. M. O caso de imigrantes haitianos, congoleses, senegaleses e ganeses e a relação com o mundo do trabalho no Brasil. In: BAENINGER, R. et al. (Org.). Migrações sul-sul. Campinas: Núcleo de Estudos de População Elza Berquó, 2018. p. 446-462.
STARK, O.; TAYLOR, J. E. Relative deprivation and international migration. Demography, New York, v. 26, n. 1, p. 01-14, 1989.
TEDESCO, J. C.; MELLO, P. A. T. Senegaleses no centro-norte do Rio Grande do Sul: imigração laboral e dinâmica social. Porto Alegre: Letra & Vida, 2015.
THE WORLD BANK. Global bilateral migration. Washington, DC, [201-?]. Disponível em: <https://bit.ly/2Qvzd1G>. Acesso em: 14 dez. 2018.
UEBEL, R. R. G. Senegaleses no Rio Grande do Sul: panorama e perfil do novo fluxo migratório “África-Sul do Brasil”. In: TEDESCO, J. C.; KLEIDERMACHER G. (Org.). A imigração senegalesa no Brasil e na Argentina: múltiplos olhares. Porto Alegre: EST, 2017. p. 185-207.
WABGOU, M. América latina: nuevo destino de los inmigrantes africanos o nueva etapa en su periplo hacia EEUU? In: MALOMALO, B.; FONSECA, D. J.; BADI, M.K. (Org.). Diáspora africana e migração na era da Globalização: experiências de refúgio, estudo, trabalho. Curitiba: CRV, 2015. p. 67-88.
WILLIAMSON, E. A. Understanding the zongo processes of socio-spatial marginalization in Ghana. 2013. 215 f. Thesis (Master of Science in Architecture Studies) – Massaschusetts Institute of Technology, Boston, 2013.
WISSINK, M.; DÜVELL, F.; VAN EERDEWIJK, A. Dynamic migration intentions and the impact of socio-institutional environments: a transit migration hub in Turkey. Journal of Ethnic and Migration Studies, Abingdon, v. 39, n. 7, p. 1087-1105, 2013.
ZAMBERLAM, J. et al. Os novos rostos da imigração no Brasil: haitianos no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Cibai Migrações, 2014.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2019 Autor, concedendo à revista o direito de primeira publicação
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantém e retém os direitos autorais. Os mesmos concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.