Identidade e cidadania: a cultura cívica no contexto de uma nova relação entre sociedade civil, indivíduos e Estado

Resumo

Exploram-se neste trabalho algumas implicações de um foco cultural para a análise da problemática da cidadania e da cultura cívica na democracia. Argumenta-se que ao se colocar o tema da identidade no contexto da democracia, o discurso sobre a exclusão social e as ambivalências das novas democracias pode ser visto como algo mais do que uma resposta ressentida aos desdobramentos supostamente inevitáveis da reestruturação econômica e estatal. Nossa perspectiva será a de explorar a experiência contemporânea da identidade, levantando questionamentos às visões meramente institucionais de cidadania, que se contentam em demarcar nítida e rigidamente as fronteiras entre o público e o privado em moldes liberais. Semelhantemente, tal enfoque se inscreve no questionamento de concepções essencialistas da subjetividade, realçando seu caráter construído (político) e sua relação indissociável com uma alteridade que lhe escapa ou confronta, pedindo reconhecimento ou cobrando negociação, o que exige uma delimitação tanto de abordagens consensualistas como mesmo de algumas abordagens pluralistas ou pós-modernas. This article explores some implications of a cultural focus for the analysis of citizenship and the civic culture of democracy. It is argued that by raising the issue of identity in this context, the discourse on social exclusion and the ambivalence of the new democracies can be seen as something other than a resentful reaction to the allegedly inevitable consequences of economic and state restructuring. The contemporary experience of identity is then scrutinized, thus raising questions to those merely institutional views of citizenship, which demarcate too neatly and rigidly the boundaries between the public and the private realm according to the liberal mould. Similarly, such an approach questions essentialist conceptions of subjectivity, stressing the latter’s constructed (political) character and its indissoluble relation to an otherness that escapes or confronts it, demanding recognition or negotiation. This understanding requires therefore a further differentiation from consensualist and even some pluralist or postmodern approaches.