205 - A Civilização Consumista Predatória: Uma interpretação da idéia de Celso Furtado do desenvolvimento econômico como mito

Autores

  • Clóvis Cavalcanti Fundação Joaquim Nabuco

Resumo

Tal como meus companheiros de geração, fui treinado nos anos sessenta do século XX para aceitar o progresso econômico sem limites e sem fim como a grande promessa da modernidade. Tudo estaria bem se a ideologia moderna do progresso não tivesse adquirido a roupagem do crescimento econômico, sob o disfarce do desenvolvimento, e se transformado na verdadeira fé que integra a formação do estudante de economia, agora mais até do que antes. Basta ver que o ótimo livro, de 1997, de Gregory Mankiw2, básico nos cursos de economia da atualidade em todo o mundo, fala apenas de crescimento econômico (como objetivo macro a ser conquistado), deliberadamente excluindo de consideração o conceito de desenvolvimento. Pode-se entender que, em 1950, se fizesse confusão entre os dois conceitos, uma vez que os países que haviam se desenvolvido até então foram aqueles também que mais cresceram do ponto de vista econômico. Ao mesmo tempo, o mundo não estava tão habitado: havia, por exemplo, 1,5 bilhão de pessoas no planeta em 1900; 3 bilhões em 1960. E o PIB global, que fora de cerca de 1,5 trilhão de dólares em 1900 (a preços de 2008), alcançou 7 trilhões em 1960 (também a preços de 2008, o equivalente ao PIB da China de 2007, segundo o método do “poder de compra de paridade” ou PPP). Quer dizer: a presença humana, medida pela quantidade de pessoas e de artefatos produzidos, ainda não parecia seriamente ameaçar o ecossistema planetário, finito e não-crescente. Baixos custos de oportunidade (próximos de zero) explicam que se atribuísse importância reduzidíssima à natureza. Estávamos mais do lado do que o notável economista americano Kenneth Boulding (1910-1993) chamava de “economia do cowboy” do que da realidade por ele tida da “economia do astronauta”. Realidade que parece ser mais ainda a de hoje, com 6,7 bilhões de pessoas (um número que aumenta de 200 mil por dia) vivendo no planeta e um PIB global de 45 trilhões de dólares (ou 62 trilhões, se se emprega o conceito do PPP)3.

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Como Citar

Cavalcanti, C. (2012). 205 - A Civilização Consumista Predatória: Uma interpretação da idéia de Celso Furtado do desenvolvimento econômico como mito. Textos Para Discussão - TPD. Recuperado de https://periodicos.fundaj.gov.br/TPD/article/view/952

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Artigos